ÍNDICE
1 - 23 horas e meia; 2 - Levar a Atividade Física para as escolas; 3 - Formas invulgares de despender 200 Kcal; 4 - A importância da E.F. nas escolas; 5 - Será que passo muito tempo sentado?; 6 - Será que os videojogos nos tornam mais inteligentes?; 7 - E se eu parasse de sair de casa?; 8 - A ciência da preguiça; 9 - Ouvir música ajuda a melhorar a performance desportiva?; 10 - Será que os alongamentos e o aquecimento ajudam?; 11 - As alterações dos Jogos Olímpicos ao longo do tempo; 12 - Qual é a melhor bebida para a tua saúde?; 13 - Será que posso beber água em demasia?; 14 - E se eu parasse de beber água?; 15 - Porque é que o café com as bebidas alcoólicas aumentam a vontade de urinar?; 16 - Alimentos congelados versus alimentos frescos; 17 - Isto são 200 Kcal; 18 - Manteiga versus Margarina; 19 - Como é que as vitaminas funcionam?; 20 - Salvar cérebros, um grande desafio; 21 - De quanto sono precisamos realmente?; 22 - ABCs da diabetes; 23 - Factos curiosos que te vão deixar de boca aberta; 24 - Agachamentos; 25 - Prancha; 26 - Alongamento do tricípete; 27 - Afundos laterais; 28 - Subir e saltar para o banco; 29 - Passos de gigante; 30 - Flexões de pernas com bola suíça; 31 - Fundos de banco.
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23 horas ½, qual é a melhor coisa que podemos fazer pela nossa saúde?
O que é que faz uma maior diferença na nossa saúde? O exercício! O melhor que podemos fazer é despender meia hora por dia em atividade física. A baixa aptidão cardiorrespiratória é o preditor mais forte para o risco de morbilidade. E se juntarmos a isto obesidade, é uma bomba. Um obeso ativo reduz as consequências negativas da obesidade. Se o exercício é o medicamento, qual é a dose (duração, frequência e intensidade)? Quanto mais ativo melhor, a taxa de retorno parece diminuir depois de 20 ou 30’ por dia em atividade física. Se realiza menos de 150’/semana de actividade física, ou menos de 60’/dia, se for criança, o alarme dispara. No entanto, vemos grandes diferenças quando alguém que não faz nada, passa a fazer alguma coisa, e depois os benefícios tendem a diminuir à medida que aumentamos o nosso nível de actividade física. As mulheres que passaram das zero horas em actividade física para apenas 60’/semana conseguiram reduzir a incidência de doenças cardiovasculares para quase metade. Podemos realizar exercício em intervalos de 10’, até perfazer os 30’ de exercício. Maior intensidade parece que é equivalente a menos tempo e com menor intensidade. Devemos pensar sobre o nosso estilo de vida e hábitos. Se só consegue realizar exercício se for algo pré-agendado com amigos, então arranja estratégias: uma caminhada de meia-hora, de manhã ou de noite, de forma a organizar a sua vida; um cão é um bom companheiro para treinar; 67% das pessoas que têm um cão atingem os 150’/semana, apenas a passeá-lo; saía numa paragem de autocarro antes da habitual; utilize as escadas; numa caminhada com a duração entre 11’ e 20’, há uma redução de 12% nos índices da pressão arterial alta ou hipertensão; uma caminhada de 21’ ou mais, diminui 29%; em 10’ de aumento há uma redução do risco de desenvolver pressão arterial alta de 12’; 20’/dia de exercício numa bicicleta, seguidos de uma aula de aeróbica de 60’, uma vez por semana; ao fim de um ano 88% das pessoas reduziu as placas de arteriosclerose; pessoas que despendem em média 6 horas/dia a ver televisão, podem viver 5 anos menos.
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Levar a actividade física e a EF para as escolas
A população jovem sofre de inatividade física. Recomendação: 60’ de atividade moderada a intensa. A falta de atividade física aumenta o risco de doenças cardiovasculares, diabetes, osteoporose, ansiedade e depressão. O peso global de inatividade física na saúde pública é semelhante ao de consumo de cigarros e de obesidade. A atividade física melhora outros aspetos da saúde e bem-estar, incluindo a capacidade aeróbia, força muscular e óssea, redução de ansiedade e depressão, auto-respeito, redução da ansiedade e depressão, auto-respeito e desempenho académico.
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Formas invulgares de despender 200 Kcal
Formas de despender 200 calorias: Correr 20’; mastigar uma pastilha durante 18 horas; aplicar protector nos lábios 1500x; 2 horas de beijos com os parceiros; 60’ de sexo; 45 escovagens de dentes; 150’ a navegar por canais de televisão; assistir a 4 séries seguidas de programa de comédia; dormir 3 horas; 60’ de surfe; beber 8 copos de água; ingerir durante 3 dias a quantidade de água recomendada; saltar à corda 15’; cantar a música favorita 23x; “Martelar” no piano durante 90’; escrever um conto no computador de 4800n palavras; 500 gramas de gordura equivale a cerca de 3500 calorias; o nº de calorias que o corpo queima durante estas actividades, depende do tamanho, do sexo e da composição corporal da pessoa.
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A importância da E.F. nas escolas
Aumentar o nível de actividade física faz com que as crianças sejam mais saudáveis, felizes e vivam mais tempo; 9 em cada 10 crianças não cumprem as recomendações de 60’/dia; isto pode levar ao aumento de problemas cardiovasculares, à obesidade e à depressão; a E.F. é um direito básico das crianças; isto ajudou as crianças desprotegidas a praticarem actividade física, num contexto escolar; mas depois a atenção sobre este assunto diminuiu porque as pessoas acharam que a matemática e as ciências eram mais importantes na educação; mas são tão importantes como a ginástica, o recreio e os treinos; as crianças estão a perder todos os benefícios associados à prática regular de actividade física, como o aumento da criatividade e confiança! E o aumento da capacidade de aprendizagem e concentração; mais, ser fisicamente ativo é divertido e ensina a trabalhar em grupo.
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Será que passo muito tempo sentado?
A maior parte das pessoas passa o dia de trabalho em frente a uma mesa; como é que estar sentado afeta o nosso corpo? Assim que nos sentamos a actividade eléctrica dos nossos músculos diminui signi9ficativamente, e a taxa de dispêndio energético diminui para 1 caloria/minuto; depois de apenas 3 horas sentado, há uma redução de 50% na dilatação arterial e, como resultado, uma diminuição do fluxo sanguíneo; passadas 24 horas sentado, a insulina perde quase 40% da capacidade de captar glicose, o que aumenta o risco de diabetes tipo 2; e as coisas só pioram a partir daqui; ao final de 2 semanas, com uma média superior a 6 horas/dia, as Lipoproteínas de Baixa i9ntensidade (LDL), o “mau colesterol”, aumentam em conjunto com outras moléculas lipídicas, aumentando o risco de ganhar peso; por outro lado, as enzimas responsáveis por degradarem as moléculas de gordura encontram-se reduzidas; por causa da inactividade prolongada, os músculos começam a degradar-se; as contracções tornam-se mais fracas, obstruindo o fluxo de sangue para o coração; mesmo se fizermos exercício regularmente, no momento em que paramos a deterioração reinicia-se, de forma proporcional ao tempo que despendemos sentados; a investigação diz que, da mesma forma como o exercício não neutraliza os efeitos negativos do tabagismo, também não consegue neutralizar os efeitos negativos de passar muito tempo sentado; no final de 1 ano, os efeitos começam a agravar-se e alguns estudos em mulheres demonstram uma diminuição da massa óssea acima de 1% por cada ano; pensas que o teu cérebro é mais importante que o teu corpo? A actividade física não ajuda apenas a aumentar o fluxo de sangue e O2 para o cérebro, mas também liberta hormonas que melhoram o nosso humor; quando não realizamos actividade física, a função cerebral começa a diminuir; talvez o mais surpreendente é que após 10/20 anos a despender mais de 6 horas/dia na posição de sentado, podemos ter perdido até 7 anos de qualidade de vida; são anos sem problemas médicos ou a morte; o risco de morte por doenças cardiovasculares aumenta 64%, enquanto o risco de cancro da próstata ou da mama aumenta em 30%; se todas as pessoas do mundo se sentassem menos de 3 horas/dia, a esperança média de vida aumentava 2 anos; resumindo, o nosso corpo não foi feito para ser sedentário, e passar 8 horas/dia no trabalho sentado, é tão prejudicial para aqueles que vão para casa ver TV, como para aqueles que vão ao ginásio. Pode ser literalmente uma “actividade mortal”!
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Será que os videojogos nos tornam mais inteligentes?
Os videojogos proporcionam uma fuga divertida à realidade. Porém muitas vezes são retratados como violentos, associados à preguiça e considerados uma perda de tempo. Este debate tem anos. Será que existem efeitos positivos? Será que os videojogos podem tornar-nos mais inteligentes? É importante que qualquer coisa em excesso faz mal, até mesmo brócolos. Quantidades elevadas podem ter um efeito tóxico. Até mesmo a água em excesso pode ter um efeito negativo. Assim, se uma criança não faz mais nada a não ser comer e jogar, o mais provável é que os riscos superem os benefícios. E se alguém parasse de sair de casa? A literatura tem mostrado aumentos da função cognitiva após algumas sessões de videojogos. Um estudo colocou os participantes a jogar “Super Mário 64” durante 30’/dia, ao longo de 2 meses. No final observou-se um aumento do volume cerebral dos participantes, em áreas associadas à memória, planeamento estratégico e motricidade finadas mãos quando comparados com aqueles que não tinham jogado. Estes resultados são interessantes para os casos de distúrbios mentais associados à atrofia de determinadas regiões do cérebro, que podem tirar partido dos vídeos jogos como terapia. Os jogos de ação também podem aumentar a atenção das pessoas aos detalhes.
(o espetador é desafiado para um jogo de cores e palavras)
Se se jogar entre 5 a 10 horas de jogos de ação por semana consegue-se resolver os problemas do jogo de cores e palavras mais rapidamente. Isto porque o cérebro é mais eficiente nas regiões associadas com a atenção. Os vídeo jogos também podem ser extremamente educativos. Há muitos vídeo jogos que são usados como ferramentas eficazes no ensino de jovens e idosos. Podem ser até utilizados para ajudar crianças que sofrem de dislexia a ler de forma mais eficaz. Num estudo com crianças disléxicas, que jogavam vídeo jogos de forma regular, conseguiram ler mais rapidamente e com maior precisão, uma vez mais relacionado com a melhoria de funções cognitivas relacionadas com a atenção. Outros estudos têm encontrado resultados com melhorias na visão. Não só melhora a percepção de pequenos detalhes, como a escrita de dimensão reduzida, como também permite distinguir, com maior facilidade, as escalas de cinzento. Jogadores experientes de jogos de ação têm uma capacidade 58% superior em distinguir pequenas alterações no contraste. Isto é importante porque é uma das primeiras capacidades a regredir com a idade. Mesmo em pessoas idosas, têm-se observado melhorias na memória e na atenção. Vídeo jogos especialmente concebidos para desafiar a atividade cerebral, demonstraram atrasar o processo de envelhecimento no cérebro até 7 anos! A razão prende-se com a complexidade cognitiva dos jogos, o que envolve um aumento da energia mental.
(Jogo a seguir círculos azuis no meio de amarelos, que depois se transformam em amarelos e temos de identifica-los)
Uma pessoa normal consegue seguir cerca de 3 a 4 objetos, enquanto um jogador experiente consegue seguir cerca de 6 a 7. Com a modernização da medicina, as cirurgias estão a ser conduzidas com a inserção de câmaras e ferramentas controladas remotamente. Estas cirurgias têm semelhanças claras com os vídeo jogos, uma vez que utilizam um écran e um comando para controlo. Sem qualquer surpresa, jovens médicos com exposição prévia a vídeo jogos, erram com menos frequência e são mais rápidos a concluir a cirurgia, em comparação com os médicos não jogadores. Todas estas competências só têm utilidade se forem postas em prática, coisa que não se consegue se se jogar por jogar. Tem de se aproveitar o tempo para relaxar a jogar, mas com moderação, mantendo as atividades do dia a dia diversificadas. Só assim se pode ganhar no jogo da vida!
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E se eu parasse de sair de casa?
Muitas pessoas ficam sentadas em casa todo o dia, seja a trabalhar ou para ver uma série de TV. Não saem por isso com muita frequência. Que aconteceria a uma pessoa se parasse de sair de casa? A 149.600 mil Km de distância, a luz solar está a ser ejetada pelo sol, atravessando todo o Sistema Solar, entrando na nossa atmosfera, e se o momento for o certo, vai diretamente para a nossa pele. E é esta luz solar que inicia uma reação em cadeia, que ajuda a sustentar a nossa vida. A “vitamina Sol” – vitamina D. Uma parte do colesterol que consumimos é alterado e armazenado na nossa pele. E quando a luz solar ultra violeta B atinge a nossa pele, modifica o colesterol armazenado. Esta nova molécula viaja através da corrente sanguínea até ao fígado, onde é alterada novamente, e depois para o rim, onde fica biologicamente “ativada”. Esta vitamina D ativada tem como objetivo absorver o cálcio dos alimentos, para fortalecer os ossos e ajudar no crescimento. De certa forma, a nossa pele come o sol e o sol aumenta os nossos ossos1 Talvez não sejamos assim tão diferentes das plantas. Sem vitamina D o nosso corpo iria diminuir o processo de mineralização dos ossos, levando a doenças como a osteoporose , mas também a uma diminuição da função imunológica. Além disso, há evidências que sugerem que a vitamina D ajuda a prevenir o cancro, doenças cardiovasculares e a depressão. O que, de certa forma, ajuda a explicar o porquê dos países com climas mais frios e com menos luz solar, experienciarem doenças como a “Depressão de Inverno”. Mas não é apenas a luz solar e a vitamina D que fazem a diferença. Muitos estudos têm demonstrado que estar em contacto com a natureza pode ter um efeito mental e físico sobre o corpo. Exames de imagiologia cerebral mostram que cérebros que estão em contacto com a natureza, têm um aumento de atividade em regiões associadas com a estabilidade, empatia e amor. Por outro lado, os que visitam ambientes artificiais aumentam a atividade em regiões associadas ao medo e ao stress. Além disso, se ficar em cada, o mais provável é que permaneça sentado. Estudos têm demonstrado os efeitos negativos para a saúde ligados ao tempo sentado, como o aumento da incidência da diabetes tipo 2 e de doenças cardiovasculares. Adicionalmente, um estudo com mais de 200.000 pessoas documentou uma forte associação entre a mortalidade por qualquer causa e o aumento do tempo sentado. Por outras palavras, quanto mais tempo ficar sentado, maior é a probabilidade de morrer prematuramente. A parte mais assustadora é que esta associação é independente do tempo despendido em atividade física. Levante-se, saia e viva um pouco mais de tempo do que teria vivido se tivesse ficado sentado.
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A ciência da preguiça
Há algum “gene sedentário” que causa um comportamento preguiçoso? A evolução moldou a nossa mente e corpo a reagir de forma positiva a recompensas naturais como comida, sexo e até exercício. O prazer que sentimos vem maioritariamente do sistema de dopamina no cérebro, que transmite mensagens pelo corpo todo, ajudando, em última análise, a assegurar a sobrevivência da nossa espécie. Para muitos, o prazer que deriva do exercício pode tornar-se tão viciante, como o prazer da comida e do sexo. Mas enquanto estamos disponíveis para comer e para fazer sexo, muitos lutam contra o desejo de realizar exercício físico, embora seja uma peça essencial da biologia humana. Cientistas descobriram uma ligação genética interessante. Ao separar ratinhos em dois grupos, os que escolhiam correr por livre vontade na roda com mais frequência, e aqueles que corriam menos, a diferença era clara na sua descendência. Depois de 10 gerações os ratinhos fisicamente ativos tinham uma frequência de corrida maior (75%), quando comparados com o outro grupo e, passadas 16 gerações, corriam 11,2 Km/dia em comparação com os 6,5 Km do grupo menos ativo. Parecia que a motivação para a prática de exercício físico era genética. Todos nós herdamos genes dos nossos pais, que têm um papel fundamental no desenvolvimento do nosso cérebro e, esse genes, podem fazer actividade física. De facto, os cérebros dos ratinhos fisicamente ativos tinham sistemas de dopamina e regiões que lidavam com a motivação e recompensa maiores. Eles precisavam de actividade física, caso contrário os cérebros reagiam de forma semelhante à de um rato toxicodependente, quando privado de cocaína ou nicotina. Estavam geneticamente viciados em correr. Também herdamos genes responsáveis por outros traços, desde a impulsividade à procrastinação, à ética de trabalho e até à pura preguiça. E é um facto que a nossa preguiça física poderá estar ligada a um gene sedentário, ou melhor, a uma mutação de um gene normal que regula os níveis de actividade física. Este gene é responsável por um tipo de recetor de dopamina, sem o qual, o mais provável, é optarmos por estar sentados e simplesmente fazer menos do que aqueles que têm o gene devidamente funcional. Então, a verdade é que o seu desejo por actividade pode não estar totalmente dependente de si. Mas existem muitos factores ambientais que assumem um papel preponderante, o que significa que não estamos destinados a uma vida de indolência. Embora mudar a rotina seja um desafio para alguns, conhecimento é poder. Portanto, se pensa que é geneticamente preguiçoso, saia do sofá e lute contra o seu ADN. O seu cérebro irá recompensá-lo por isso! Precisa de ajuda para ter sucesso? Veja os nossos vídeos anteriores sobre “Ciência da Produtividade”, que podem ajudar a melhorar a sua motivação e a combater a preguiça!
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Ouvir música ajuda a melhorar a performance desportiva?
A música pode definir um estado de espírito. Um pouco de jazz clássico pode ajudar a relaxar o corpo enquanto o pop ou o rock aumenta a frequência cardíaca de forma a preparar uma noite na cidade. Mas se a música, aparentemente, pode alterar a mentalidade, ou ajudá-lo a resistir à fadiga mental, será que pode também afetar a performance desportiva? O termo música sincronizada refere-se a músicas com uma batida forte que coincide com os movimentos repetitivos de um determinado desporto. E é este tipo de música que aumenta a capacidade de trabalho de um atleta, em especial desportos de fundo ou movimentos repetitivos, como o esqui de fundo. Esta hipótese foi posta em prática quando o atleta Haile Gebrselassie, conhecido pelo seu ritmo de corrida sincronizada, ao som da música pop “Scatman”, bateu o r4ecorde mundial dos 10.000 m. Estudos demonstraram que a música pode atuar como um estimulante cognitivo e físico, especialmente quando a música tem um significado pessoal. Para os atletas que sofrem de ansiedade pré-competição, a música pode ser usada para melhorar o humor, a auto-estima e a confiança. Mesmo durante a competição a música pode redireccionar a atenção de um atleta, desviando o foco da sensação de cansaço. Estudos com atletas, com e sem utilização de música, observaram que aqueles que ouviam música pop durante o treino, ou aquecimento, atingiam valores de frequência cardíaca e potência ou aquecimento, atingiam valores de frequência cardíaca e potência muscular mais elevados, quando comparados com atletas que treinavam sem música. Além disso, porque a música pode despoletar emoções, foi sugerido que pode melhorar a imagem mental que o atleta tem de si mesmo, uma técnica em que os atletas se imaginam a dominar um desporto antes dea competição. Este estado de espírito é fundamental para todos os atletas especialmente antes de grandes competições. Muitos treinadores proíbem a música entre os atletas como uma ferramenta de motivação. Os atletas são informados que só podem usar a música durante as sessões de treino, após atingirem um determinado nível de produtividade específica. Desta forma, qual é a música que funciona melhor? Os resultados da maioria dos estudos sugerem que ouvir música melhora o desempenho, independentemente da composição, ou da velocidade, quando comparado com não ouvir música. No entanto, a música com um ritmo superior a 120 bpm produziu os melhores resultados. Ciência diz, faz uma lista com as tuas favoritas e com um ritmo elevado para po9deres fazer frente à tua competição.
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Será que os alongamentos e o aquecimento ajudam?
Mais de 10 milhões de lesões relacionadas com o desporto ocorrem no mundo todos os anos. Para evitar isso, atletas e treinadores usam uma variedade de técnicas no período pré-competitivo para diminuir as lesões e aumentar o desempenho. Mas o que é que a ciência nos diz sobre os alongamentos e o aquecimento? Estudos, que analisaram o efeito dos alongamentos no desempenho desportivo, verificaram que depende da actividade realizada. Desportos como a patinagem artística e o snowboard, que dependem de movimentos de amplitude elevada para impressionarem os juízes, beneficiam da flexibilidade do atleta. No entanto, desportos de força, como a patinagem de velocidade, ou o bobsledge, não beneficiam com um período longo de alongamentos, sob o risco de levar a uma diminuição temporária da força muscular. O músculo alongado em demasia torna-se menos sensível e pode ficar enfraquecido até 30’. Embora as competições desportivas possam ser extenuantes, existe pouca evidência para sugerir que alongar, antes ou depois de uma competição, possa diminuir a dor muscular. Por outro lado, alguns estudos observaram que a flexibilidade extrema pode levar a um aumento do alongamento sem dor. E, se não se sente dor, então o corpo não sabe quando é que devo parar, e o resultado pode ser um aumento da probabilidade de ocorrerem lesões. Outro estudo com atletas documentou que os participantes com maior ou menor flexibilidade apresentavam risco de sofrer lesão 2,5 vezes superior. Assim, quando se trata de flexibilidade no desporto, o melhor é ser moderadamente flexível. Um aquecimento bem delineado tem um efeito positivo no desempenho desportivo. O próprio termo vem dos efeitos positivos do aumento da temperatura corporal antes de uma actividade. O aumento progressivo da intensidade do esforço, antes da actividade, contribui para o aumento da temperatura do músculo, o que, em última análise, permite que os músculos tenham a capacidade de se contrair com mais força. Contrações mais fortes correspondem a um aumento da produção de força e potência. Além disso, iniciar de forma lenta os movimentos, permite que os músculos aumentem o diâmetro dos vasos sanguíneos, o que resulta num aumento do fluxo de sangue por todo o corpo e numa diminuição do esforço por parte do coração. Finalmente, o aumento da temperatura do sangue leva a que os glóbulos vermelhos consigam reter menos oxigénio. Este O2 livre pode ser usado pelos músculos, aumentando o desempenho em desportos de resistência. A ciência diz que é importante não alongar em demasia, no que diz respeito à flexibilidade, mas, aquecer o corpo antes de uma actividade desportiva, pode ajudar-nos a vencer a competição.
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As alterações dos Jogos Olímpicos ao longo do tempo (1924 – 2014)
Os atletas de hoje em dia não só são muito melhores do que os do passado, como também parecem incrivelmente diferentes. O estranho é que os cientistas sabem que o corpo humano não sofreu alterações drásticas nos últimos 100 anos. Então, porque é que os atletas olímpicos parecem tão diferentes hoje em dia quando comparados com os primeiros Jogos Olímpicos de Inverno de 1924? No início do século XX, o atleta ideal era baseado nas proporções humanas clássicas. Se imaginarmos que os diferentes tipos de morfologia estavam distribuídos numa curva com a forma de um sino, em que nas extremidades da curva estavam pessoas muito fortes ou demasiado magras, era o meio da curva que era considerada a melhor forma física. Atletas que não eram muito altos, nem demasiado baixos, sem muito volume, mas não demasiado magros, ou seja, em linha com a média, eram considerados exemplares na procura do ideal olímpico. Mas todo este conceito mudou. Hoje em dia o sucesso dos atletas depende do tipo de corpo altamente especializado, que lhes permite vingar num mundo extremamente competitivo. Por exemplo, os atletas que são obrigados a realizar acrobacias no ar, como os patinadores ou ginastas, têm reduzido a estatura ao longo do tempo. Estes atletas, com a estatura reduzida e um corpo especializado, têm uma vantagem sobre atletas mais altos, com resultados superiores em competições. De facto, em 30 anos, a altura média de um ginasta profissional diminuiu de 160 cm para 145 cm. Simulações de computador, que estudam a física do salto em ski, demonstraram que o comprimento do salto aumenta drasticamente com a diminuição do peso corporal. Ao longo dos últimos anos isto tem contribuído para que os atletas de topo desta modalidade reduzissem o peso corporal para valores abaixo do normal, o que resultou em alguns casos de anorexia. Com as mulheres a competir nesta modalidade olímpica pela primeira vez este ano, é de estranhar que o peso corporal seja superior ao dos seus homólogos do sexo masculino. À medida que a modalidade entre as mulheres se tornar mais popular e competitiva, é provável que se observe uma alteração do tipo de corpo, associado a uma redução do peso corporal. O hóquei é outro exemplo no qual é possível observar mudanças corporais. Estudos que olharam para os últimos 26 anos encontraram diferenças significativas ao longo dos anos, com um aumento de quase todas as variáveis medidas. O que inclui a estatura, peso corporal, índice de massa corporal, aptidão aeróbia e anaeróbia, e até mesmo a força de preensão. Desde 1920, os jogadores de hóquei aumentaram, em média, a estatura de 10 cm, de 1,75m para 1,85 m. Assim, o jogador olímpico mediano é claramente uma coisa do passado. Mas a ciência diz que os Jogos Olímpicos podem ser um objetivo realista para pessoas de diferentes tamanhos e formas.
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Qual é a melhor bebida para a tua saúde?
Existe uma pressão social elevada para beber outras bebidas além da água, como por exemplo, “100% de sumo de fruta” ou bebidas “energéticas” com eletrólitos especiais e refrigerantes. Mas a maioria dos sumos não são tão saudáveis como parecem. É melhor comer a própria fruta do que beber o sumo. O problemas é que estes sumos não têm só 1 colher de açúcar, nem 4 nem 5, provavelmente têm 8, 10 ou mais. Num estudo intitulado “Escolhe opções saudáveis conscientemente”, as pessoas que escolheram “água” tinham uma probabilidade duas vezes superior de atingir uma perda de peso 5% do peso corporal, em 6 meses de estudo. E eram também os que tinham os melhores valores de glicémia sanguínea e os mais hidratados, comparando com os que ingeriam outras bebidas. O Instituto Nacional de Saúde (NIH) financiou um estudo que avaliou os hábitos de vida de 20.000 pessoas da Igreja Adventista do Sétimo Dia, com o objetivo de perceber se estes hábitos aumentavam ou diminuíam o risco de problemas cardíacos, comparados com a dieta típica americana. O grupo ingeria uma quantidade elevada de água, entre outros produtos saudáveis. E quando seguiam o estilo de vida das pessoas menos saudáveis, observavam que, em média, consumiam 2 copos de água por dia, versus 3, 4, 5 ou mais copos de água no grupo de pessoas mais saudáveis. Depois de controlarem para um conjunto de fatores que afetam a saúde cardiovascular, os resultados demonstraram que, quem bebia mais copos de água, tinha uma redução para metade do risco de doenças cardiovasculares. A água não só hidrata, como também é boa para a pele, diminui as dores de cabeça e desmaios, ajuda no controlo do trânsito intestinal, ajuda a tratar febres e diarreias, reduz a probabilidade de ter pedras nos rins, e até pode ser a melhor cura para as ressacas. É celebrada por muitas civilizações e culturas antigas que vão desde os Aztecas, os Celtas, os Chineses e os Persas. O seu efeito potente era celebrado e adorado naquela altura.Mas, desde então, tem vindo a perder sabor. Se tivermos sede devemos beber água, especialmente se a cor da urina for mais escura. E se a pessoa for ativa? Em 2012 um estudo comparou bebidas desportivas com água de coco e água da torneira, em homens que realizaram exercício vigoroso durante 1 hora, e que perderam aproximadamente 1,7 Kg de peso em suor. Quando estes atletas foram avaliados em marcadores de performance ou de hidratação, a simples água era tão eficaz como as restantes bebidas desportivas, com um valor de mercado muito melhor. O nosso corpo tem 70% de água, portanto convém mantê-lo assim. Prescrição: trocar a bebida de cor por água simples; encher a garrafa de água antes de entrar no carro, no restaurante pedir água simples. Arranjar um copo maior, um copo cheio pode levar a melhorias na nossa saúde!
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Será que posso beber água em demasia?
A água é fundamental para que possa existir vida, torna-nos mais saudáveis e é muito refrescante. Especialmente após um treino intenso. Mas, é a intoxicação por água real? Será que posso beber água em demasia? O que se fala é que temos de beber cerca de 8 copos de água por dia para nos mantermos saudáveis, mas a verdade é que este número específico e arbitrário, não é suportado por evidência científica. Independentemente disso, sabemos que a água é extremamente importante. Na verdade, todos os organismos existentes dependem de água para sobreviver. Não se limita a ajudar o corpo humano, a facilitar o transporte de oxigénio e nutrientes para as células, a regular a temperatura corporal e a ajudar o metabolismo, mas elimina os resíduos do nosso organismo para fora do corpo. Se suares muito durante uma actividade desportiva, vais começar a sentir-te um pouco tonto. Três dias sem água e é provável que não sobrevivas. Então, como é que uma substância essencial pode ter um efeito negativo para a saúde? Tudo se resume ao nível celular. A água corrente tem uma concentração reduzida de electrólitos, coisas como o sódio ou o potássio, especialmente, quando comparada com as tuas células. Os electrólitos ao nível celular permitem que os músculos e os nervos funcionem correctamente e ajudam a controlar a pressão arterial e o volume de sangue. Sem eles o nosso corpo não consegue funcionar. Em condições normais a diferença na concentração de electrólitos no espaço intra e inter celular não representa um problema para o organismo, devido ao papel que os rins têm em expulsar qualquer excesso de água. No entanto, os rins só conseguem excretar um determinado volume de água. Isto significa que o consumo em grandes quantidades de água, num curto espaço de tempo, cria uma diferença significativa na concentração dos electrólitos. Como resultado a água migra para dentro das células, numa tentativa de diluir a concentração e equilibrar a proporção de electrólitos, e isso faz com que as células aumentem o seu volume. O problema é que, ao contrário de outras partes do corpo, o cérebro literalmente não tem espaço dentro do crânio para acomodar estas células volumosas. As consequências são dores de cabeça agudas e confusão, podendo resultar em convulsões, coma, paragem cardiorrespiratória, até morte. Então será que te deves preocupar? Nem por isso! Casos de intoxicação por água são muito raros, embora possam acontecer em circunstâncias extremas. Perto de 1/6 dos maratonistas desenvolvem situações ligeiras ao longo da carreira, o que coloca os atletas de fundo num nível de risco mais elevado. Estes casos acontecem em situações extremas de stress atlético, em que o corpo tenta conservar a água. Desta forma, não só a ingestão de água é maior durante a prova, como o corpo tenta reter água, urinando com menos frequência. A ciência diz que a probabilidade de sofrer uma intoxicação por água, é relativamente reduzida e a pessoa deve sempre beber água em função da sensação de sede. É o melhor indicador!
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E se eu parasse de beber água?
Todos os seres vivos precisam de água para viver, é parte da razão porque procuramos água noutros planetas, pelo Universo fora e a consumirmos todos os dias no planeta terra. O que é que aconteceria ao nosso corpo se parássemos de beber água? Incluindo todos os fluidos que a têm como base, como sumos, refrigerantes ou chá. Quase como a necessidade de respirar oxigénio, a sede é um instinto de sobrevivência. A água é a molécula mais abundante no corpo humano, ocupando cerca de 65% de um adulto. Como solvente universal, transporta nutrientes e hormonas pelo organismo, regula a temperatura corporal, amortece as articulações e lubrifica os olhos. Produzimos cerca de 1,5 litros de urina por dia, com mais 1 litro perdido através da respiração, sudação e defecação. É pois essêncial que o corpo reponha estes líquidos. A região responsável pela sensação de sede no cérebro encontra-se no hipotálamo e usa, constantemente, sensores nos vasos sanguíneos para monitorar as concentrações de sódio e outras substâncias no corpo. Por exemplo, se suarmos muito o volume e pressão arterial diminuem. O cérebro deteta esta variação que se manifesta sob o instinto de beber algo. Então, o que é que acontece se estivermos impossibilitados de satisfazer esta sede? Os primeiros sinais de desidratação óbvios são a boca seca, seguido de urina mais escura e com odor forte, à medida que o corpo tenta conservar os fluidos. A falta de água começa então a afetar o cérebro, podes sentir-te tonto, com um tempo de resposta diminuído e uma capacidade reduzida de sentir dor. De facto, quando se está desidratado, o tecido cerebral encolhe. Estudos com participantes hidratados e desidratados, em tarefas semelhantes, demonstraram que as segundas necessitavam de maior atividade cerebral e consumo de água, em comparação com as hidratadas. Passados 1 a 2 dias sem fluidos, pararam de urinar por completo, tiveram dificuldade em engolir, sofreram espasmos musculares e tiveram náuseas. Afinal, o nosso corpo consegue sobreviver durante mais tempo sem comida, e dar atenção à digestão não é uma prioridade nestes momentos. Eventualmente as vítimas podem ficar delirantes e com atividade cerebral debilitada. Curiosamente estudos que avaliaram pacientes idosos que sofriam de delírios, demonstraram que muito sofriam simplesmente de desidratação crónica, à priori. Com o passar do tempo, a privação de água leva a que o sangue pare de irrigar a pele, comprometendo a perda de calor mas aumentando a temperatura interna. Isto leva a uma cor de pele azulada. Passados 3 a 5 dias sem água, o corpo começa a desativar os órgãos e, eventualmente, o cérebro. Claro que ao contrário da disponibilidade de água que respiramos, apenas 2,5% de toda a água do planeta é potável. A maioria está localizada em glaciares, calotas polares e lagos subterrâneos como aquíferos, deixando menos de 1% da água potável disponível para beber. Porém, a maioria desta água é usada para cultivo, aproximadamente 500 mil milhões de litros de água potável são utilizados diariamente na agricultura apenas nos EUA, com outros 500 mil milhões de litros utilizados para arrefecer as centrais elétricas. Uma vez que as nossas fontes de água pessoais estão cada vez mais contaminadas, mais de 783 milhões de pessoas na Terra estão privadas de água limpa. Cientistas de todo o lado procuram soluções para este problema, desde tentativas para remover o sal de água dos oceanos, alcançar aquíferos subterrâneos e criar sistemas inovadores de filtração de água. Se olharmos para o espaço, a NASA desenvolveu uma tecnologia que permite aos astronautas transformarem a urina em água, num estado mais puro do que a bebemos na Terra. Mas não podemos depender apenas de ciência e tecnologia, talvez a solução recaia sobre nós enquanto espécie, em entender e contribuir com soluções para esta crise global de água.
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Porque é que o café com as bebidas alcoólicas aumentam a vontade de urinar?
Existem mecanismos biológicos simples quando a natureza decide que se deve ir à casa de banho. A hipófise, que se encontra alojada na base inferior do cérebro, controla os níveis de uma hormona conhecida como “antidiurética”, ADH, que entra na corrente sanguínea em direção ao rim. O rim, entre outras funções, é responsável por monitorizar os níveis de água no corpo e por decidir se deve ou não excretar água. Em situações de desidratação a ADH é a responsável por reter água no corpo, através do aumento da produção de aquaporinas no rim. São proteínas embebidas na membrana do rim, com a função de regular o fluxo de água. Neste caso, permite que toda a água seja reabsorvida de volta para o corpo. Desta forma, se os níveis de água no corpo estiverem reduzidos, a produção de ADH aumenta, o que resulta no aumento da produção de aquaporinas e da reabsorção de água. Portanto, em vez de urinar o corpo vai reter esses fluidos. Pensemos nisto como se fosse um copo de água quando temos muita sede: as aquaporinas funcionam como palhinhas e facilitam a entrada de água para dentro do teu corpo. Quanto mais palhinhas, maior é a reabsorção de água. Então e o que é que a ADH tem a ver com o café e com as bebidas alcoólicas? Tanto a cafeína como o álcool inibem a libertação de ADH por parte da hipófise e, como resultado, não se formam aquaporinas, nem ocorre o processo de reabsorção de água. Consequentemente, a quantidade de água na urina aumenta, o que explica o motivo da vontade de ir à casa de banho após tomarmos o café matinal ou após algumas cervejas. No caso do álcool, esta inibição da ADH contribui para o que conhecemos como “ressaca”. Isto explica porque a tua urina fica mais transparente durante o consumo de bebidas alcoólicas e, na manhã seguinte, apresenta uma cor parecida a um sumo tropical.
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Alimentos congelados versus alimentos frescos
Existirá alguma diferença entre produtos frescos e congelados, em termos de composição nutricional? A primeira reação é dizermos: “claro que os alimentos frescos são melhores”! É fresca, e até podemos ter razão, mas na realidade depende muito da circunstância. Em muitos casos, os alimentos que retiramos da prateleira de um supermercado são colhidos verdes para evitar danos durante o transporte. Isso significa que ainda não foi atingido o seu máximo potencial nutricional. Para além disso, no momento em que é colhido, o seu conteúdo nutricional começa-se a deteriorar. Estes produtos são depois carregados em camiões, barcos ou aviões, onde viajam durante dias, esperam depois numa prateleira até que alguém os escolha. E podem ainda ficar no frigorífico durante dias. Durante esse período, provavelmente de algumas semanas, o alimento pode perder até 50% do seu valor nutricional. Os alimentos congelados, em contrapartida, são colhidos maduros e congelados de imediato, e apesar de o processo de congelamento rápido afetar algum do conteúdo vitamínico, é também responsável pelo congelamento ou retenção da maioria dos nutrientes. Ao lado de um alimento fresco que não foi consumido durante semanas não existem dúvidas que os alimentos congelados podem ser mais nutritivos, particularmente durante o mês em que o produto local está fora de época e a viajar longas distâncias. Numa série de estudos, após 3 dias de conservação, brócolos congelados continham níveis mais altos de vitamina C e betacaroteno. Mirtilos congelados continham valores mais elevados de polifenóis e antocianinas e couves-de-bruxelas congeladas apresentavam quantidades mais elevadas de todos os nutrientes. É claro que, se apanhar um vegetal fresco no seu jardim ou se o comprar num mercado de produtos locais, e o consumir no mesmo dia, não existe comparação em termos nutricionais e de sabor. Porém, a menos que lhe seja possível ir às compras em intervalos de poucos dias, alimentos congelados podem ser uma alternativa nutricionalmente semelhante.
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Isto são 200 Kcal
As calorias são unidades simples de energia, com as calorias de 217 Big Macs podíamos conduzir um carro durante 35 Km. Uma caloria corresponde à quantidade de energia ou calor necessária para aumentar a temperatura de um grama de água em 1º C; precisamos de energia para sobreviver e conseguimo-la através de comida; hidratos de carbono, proteínas e gorduras são os componentes fundamentais da nossa comida e cada um deles contribui com diferentes quantidades de energia para o nosso corpo. Uma pessoa normal necessita entre 2000 a 2700 calorias por dia, dependendo de fatores como a altura, o peso, o género e a idade. E alguns alimentos por terem muitas calorias preenchem estes requisitos de forma mais rápida. Pelo contrário as cenouras têm poucas calorias e obrigam-nos a mastigar bastante. Se a opção for comer saladas, cuidado com os molhos. O café por si só é baixo em calorias, mas tudo aumenta se adicionarmos natas e açúcar. Mas não é o facto de o alimento apresentar menos calorias que faz com que seja necessariamente mais saudável. A Coca-Cola contém menos calorias por litro do que o Leite. Mas este contém muitos nutrientes e gorduras saudáveis. O pão escuro contém mais calorias por fatia que o pão branco, mas também contém mais nutrientes e fibras. Contar calorias não é o mais importante, mas se pensarmos no que entra no nosso corpo fará a diferença.
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Manteiga versus Margarina
A manteiga é feita a partir da nata do leite, e a sua composição é rica em gordura saturada, com mais de 35 calorias por colher de chá, por isso engorda. Nas moléculas da manteiga existem blocos essenciais para a construção da vida: carbono, hidrogénio e oxigénio. Mas os átomos de carbono encontram-se completamente cercados por átomos de hidrogénio. O elevado grau de saturação da manteiga ficou rapidamente associado ao aumento da incidência de doenças cardiovasculares. A margarina, por outro lado, deriva principalmente de óleos vegetais , que têm uma composição química semelhante , mas ainda assim diferente. As ligações duplas que se estabelecem entre os átomos de carbono não permitem que o hidrogénio se encaixe na estrutura orgânica da molécula. A isto chamamos gordura insaturada. Até aqui tudo bem, um substituto com gosto semelhante com menos gordura saturada. Certo? Não tão rápido, a gordura insaturada tem um ponto de fusão mais baixo e assim o seu estado natural é menos sólido, como por exemplo o óleo vegetal. Com o objetivo de obter de obter a consistência da manteiga, os cientistas decidiram modificar a margarina de forma a ficar um pouco mais saturada. O problema é que através deste processo chamado “hidrogenação”, onde são adicionados hidrogénios para tornar a margarina mais sólida, são utilizadas temperaturas elevadas, que podem alterar de forma problemática o produto final. Por exemplo, a maioria das ligações duplas da margarina têm uma configuração conhecida como “ligações cis”, mas o processo de hidrogenação inverte-a, em muitos dos casos, para uma configuração chamada de “configuração trans”. É o nascer das gorduras “trans”. Embora possa parecer trivial, esta simples, mas inconsciente inversão, de “cis”, leva a mudanças significativas no modo como o nosso corpo processa e metaboliza as moléculas. Em geral, a gordura “trans” diminui o chamado “bom colesterol” e aumenta o “mau colesterol”, com implicações no aumento do risco de doenças das artérias coronárias. Assim, enquanto a margarina era inicialmente vista como uma opção mais saudável, pouco a pouco começamos a desvendar os seus perigos. Mas a verdade é que muitas empresas defendem que a margarina que produzem é livre de gordura “trans” e a verdade é que algumas são. No final do dia, se compararmos cada um dos produtos, há prós e contras para ambos. A manteiga é completamente natural e feita tipicamente a partir de um ingrediente, ao passo que a margarina é processada e tem muitos ingredientes. A manteiga também tem algumas vitaminas e minerais essenciais, como vitamina A e E. No entanto, as margarinas de hoje em dia variam tanto que é difícil fazer uma comparação precisa. Muitos concordam que as margarinas são ricas em gorduras “trans” e muito piores para a saúde do que a manteiga. Mas, algumas margarinas mais recentes, têm níveis de gordura saturada mais baixos, menor quantidade de calorias – contêm zero gorduras “trans”. O importante é ter consciência do que é que se está a comer. A margarina pode variar de forma tão drástica que basta olhar para o rótulo para perceber a sua composição, o que vai ajudá-lo a tomar decisões informadas. E há alternativas mais saudáveis para ambas, como espalhar óleo vegetal ou usar o azeite para mergulhar o pão em vez de o barrar com manteiga. Não importa a sua escolha, o objetivo recomendado é limitar a ingestão de gordura saturada e evitar as gorduras “trans” por completo.
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Como é que as vitaminas funcionam?
A, C, E, D, B, K, são vitaminas, e tal como as letras formam palavras, elas são os componentes básicos que mantêm o corpo em funcionamento. As vitaminas são compostos orgânicos que devemos ingerir em pequenas quantidades para manter o nosso organismo em funcionamento. As vitaminas constroem, defendem e fazem a manutenção do corpo, ajudando na construção de músculos e ossos, favorecendo o aproveitamento dos nutrientes, a captação e utilização de energia e a cicatrização de feridas. Os marinheiros do passado quando não tinham acesso a produtos frescos, e ricos em vitaminas, adoeciam com uma doença chamada “escorbuto”. A vitamina C, abundante em frutas e vegetais, era o remédio simples para essa doença. Enquanto as bactérias, fungos e plantas produzem as suas próprias vitaminas, o nosso corpo é incapaz de o fazer e, por isso, temos de obtê-las a partir de outras fontes. Então como é que o corpo obtém as vitaminas de que necessita? Isto depende da forma que estes compostos assumem. As vitaminas dividem-se em 2 tipos: lipossolúveis e hidrossolúveis. A diferença entre elas determina a forma como o corpo transporta e armazena as vitaminas e elimina o excesso. As vitaminas hidrossolúveis são a vitamina C e as vitaminas do complexo B, constituídas por 8 tipos diferentes, cada uma com uma ação específica. As vitaminas hidrossolúveis dissolvem-se no conteúdo aquoso de frutas, vegetais e grãos. Por isso a sua absorção pelo corpo é praticamente direta. Uma vez dentro do organismo, os alimentos são digeridos e as vitaminas que contêm entram diretamente na corrente sanguínea. Uma vez que o plasma é constituído maioritariamente por água, as vitaminas C e B, solúveis em água, são facilmente transportadas e podem circular livremente dentro do corpo. Para as vitaminas lipossolúveis, dissolvidas em gorduras e encontradas em alimentos como laticínios, manteiga e óleos, a viagem até ao sangue é um pouco mais atribulada. As vitaminas lipossolúveis passam pelo estômago e intestino, onde uma substância ácida chamada Bílis, proveniente do fígado, fragmenta a gordura e prepara-a pata a absorção através da parede intestinal. Já que as vitaminas lipossolúveis não podem aproveitar a natureza aquosa do sangue, precisam de algo mais para circularem pelo organismo, e isso é feito com proteínas que se ligam às vitaminas, e agem como táxis, transportando as vitaminas lipossolúveis pelo sangue e pelo corpo. Assim, a diferença entre vitaminas hidrossolúveis e lipossolúveis determina a forma como entram na corrente sanguíne e, também, como são armazenadas ou eliminadas pelo corpo. A facilidade de transporte de vitaminas hidrossolúveis na corrente sanguínea leva a que a maioria possa ser eliminada pelos rins com a mesma facilidade. Por isso a maioria das vitaminas hidrossolúveis precisa de ser reposta diariamente através da alimentação. As vitaminas lipossolúveis têm o poder de permanecer no corpo, uma vez que se acumulam no fígado e nas células adiposas. O corpo considera estes locais uma despensa, armazenando as vitaminas nesses tecidos para utilizá-las em caso de necessidade. O que significa que não devemos abusar da ingestão destas vitaminas, porque o corpo tem a capacidade de armazena-las adequadamente. Uma vez compreendida a logística de transporte e armazenamento, deixemos as vitaminas realizarem o seu trabalho. Algumas, como muitas das vitaminas do complexo B, fabricam coenzimas, cuja função é ajudar as enzimas a libertarem energia dos alimentos. Outras vitaminas do complexo B ajudam o corpo a utilizar essa energia. Com a vitamina C consegue-se combater infeções e produzir colagénio, um tipo de tecido envolvido na formação de ossos, dentes e cicatrização de feridas. A vitamina A ajuda a produzir leucócitos, essenciais para a defesa do organismo, ajuda a dar forma aos ossos e melhora a visão, mantendo as células dos olhos sob controlo. A vitamina D absorve o cálcio e o fósforo, importantes para a formação dos ossos, e a vitamina E atua como antioxidante, eliminando do corpo as substâncias que podem danificar as células. Finalmente, a vitamina K confere a capacidade de coagular o sangue, uma vez que ajuda a produzir as proteínas responsáveis por esta função. Sem esta variedade de vitaminas, o ser humano enfrenta deficiências que causam uma série de problemas, como fadiga, lesões no sistema nervoso, problemas cardíacos, ou doenças como o raquitismo e o escorbuto. Por outro lado, o excesso de vitaminas pode tornar-se tóxico para o organismo. Portanto, lá se vai o mito de que a suplementação por excesso é uma boa ideia. Na verdade, trata-se de conseguir o equilíbrio adequado, e garantir o consumo ideal de vitaminas.
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Salvar cérebros, um grande desafio
1/3 das crianças do mundo não atingem o seu pleno potencial. E se fosse possível aumentar esse potencial? E se conseguíssemos literalmente salvar cérebros? O desenvolvimento cerebral já foi considerado um processo fixo no qual o diagrama genético se desenrolava ao longo da vida. Mas agora há uma perspectiva mais ampla, em que os genes são importantes. O cérebro sofre alterações funcionais e estruturais a partir das experiências vividas: plasticidade cerebral! Começa mesmo antes de nascermos, e não pára até morrermos. Nos primeiros 1000 dias de vida quando o cérebro está em fase de crescimento acelerado, é a melhor janela de oportunidade para fomentar o desenvolvimento do cérebro. Compreender esta etapa como uma janela de oportunidade, é um pouco como olhar para o mercado financeiro e colocar a seguinte questão: “E se eu tivesse investido parte do meu dinheiro há 20 anos atrás nestas acções?” Foi sugerido que se recebermos alguns elementos – chave durante a primeira fase da nossa infância, fase em que os genes estão mais atentos, isso terá consequências benéficas numa fase mais avançada da nossa vida adulta. O cérebro da criança torna-se mais rico e estabelece mais conexões. Tendo o cérebro esta singularidade, isso será um efeito de propagação na vida da pessoa: melhora o seu desempenho académico, as oportunidades económicas, a saúde, a resiliência e a capacidade de conduzir a sua vida, evitando alguns incidentes negativos. Já vou chegar às coisas positivas que podemos fazer para ajudar no desenvolvimento dos cérebros das crianças. Mas antes de fazer isso, é necessário considerar o revés, quando efeitos negativos acontecem com o cérebro no início da vida. Vamos definir então o que é negativo. Ao considerarmos o “stress”, pensa-se em 3 categorias. A primeira é um tipo de experiência de “stress positivo” que desejamos para as nossas crianças, o stress acontece num contexto em que se fomentam relações de suporte emocional e estáveis, em que as crianças constroem respostas saudáveis frente a adversidades. Mesmo quando “falham” esperamos que a sua rede social as ajude a falhar de maneira apoiada, de forma a favorecer a resiliência. A segunda categoria é quando as crianças estão expostas a níveis de stress elevado, por exemplo , a morte inesperada de um parente, doenças graves ou acidentes, um divórcio contencioso, desastres naturais e por aí fora. Chamamos isto de tolerável, porque se acriança tem relações de suporte fortes, criam-se oportunidades para ela desenvolver o autocontrole e a capacidade de adaptação. Por fim temos o stress tóxico que, por definição, não tem este sistema de apoio e é mais complicado. Isto inclui abuso infantil, violência doméstica ou comunitária, negligência. Por vezes devido a um estado depressivo da mãe ou à dependência química dos pais. Estas crianças não têm proteção e, quando medimos a sua resposta fisiológica ao stress, demonstraram uma ativação forte, frequente ou prolongada, o que dificulta o cérebro, numa fase inicial de desenvolvimento, a priorizar o crescimento e a aprendizagem. E então? Quando crianças americanas expostas a stress tóxico foram acompanhadas no “Estudo de Experiências Adversas na Infância”, as crianças com as piores avaliações tinham um risco 4 a 12 vezes superior de desenvolver dependência de álcool e drogas, depressão e de cometer suicídio; um risco de 2 a 4 vezes superior de serem fumadores; dificuldade em considerarem-se saudáveis; de ter mais de 50 parceiros sexuais; e um aumento do risco de serem fisicamente inativos e obesos em 1,5 vezes. Este é o ponto nº 1: stress e adversidade fazem parte da vida. E se as crianças estão envolvidas e apoiadas, podem desenvolver uma resposta saudável independentemente do lugar e do contexto em que vivem. Até mesmo quem experiencia eventos de stress extraordinário, encontra-se protegido. Crianças que sofrem com stress tóxico, abuso e negligência, em idades mais jovens, possuem uma plataforma mais vulnerável para que se possam desenvolver. Esta desvantagem pode ter diferentes consequências ao longo da vida e estas crianças precisam de proteção infantil para prevenir, ou limitar, os danos. Agora que sabemos os tipos de stress que impedem o desenvolvimento do cérebro em idades mais jovens. O que é que se pode fazer para fomentar o desenvolvimento do cérebro das crianças? A resposta tem 2 partes: 1 – Providenciar uma plataforma de saúde e nutrição; 2 – fortalecer uma resposta que se baseie na estimulação através da brincadeira. Na Jamaica fez-se um estudo durante 2 anos com crianças de alto risco na faixa etária entre os 9 meses e os 2 anos, em que as curvas de crescimento inicial foram consideravelmente mais baixas do que o normal: 1 – Num grupo as crianças foram apenas acompanhadas (Acompanhadas); 2 – Outro grupo recebeu nutrição extra com 1 Kg de suplemento à base de leite (Nutrição Extra); 3 – Outras foram estimuladas (Estimulação); 4 – Outro receberam estimulação e nutrição extra (Estimulação e Nutrição Extra). A Estimulação consistia em visitas semanais de Assistentes Sociais que encorajavam as mães e as crianças a interagirem com brincadeiras que desenvolvessem as habilidades cognitivas e emocionais. Quando a mãe ou o pai respondem rapidamente ao bebé de maneira calorosa e amorosa, o bebé aprende que as suas necessidades vão ser satisfeitas. Sente-se seguro e amado. Quando o pai fala ou canta para o seu bebé a curiosidade da criança é estimulada e eles tornam-se, conscientemente, interativos. Isso literalmente estimula o cérebro da criança e cria-se uma plataforma para dar continuidade. Os resultados do estudo na Jamaica foram publicados na revista “Lancelet”, e mostraram que ambos os grupos “Estimulação” e “Nutrição Extra” melhoraram de forma significativa, independentemente do seu índice de desenvolvimento infantil. Mas o grupo que recebeu as duas intervenções teve resultados significativamente melhores do que os que receberam apenas uma, tendo conseguido alcançar os seus colegas sem necessidades especiais. Quando estas crianças tornaram a ser seguidas aos 17 e aos 22 anos, as crianças cuja intervenção fora focada na brincadeira extra (“Estimulação”), tinham um vocabulário superior, eram melhores na leitura, envolviam-se em menos conflitos, tinham um comportamento menos agressivo, e menos sintoma de depressão e inibição social. A taxa de abandono escolar nesta idade era, em média, 29%; as crianças com envolvimento na primeira fase da infância, tinham metade da taxa de abandono escolar, 15%. Foram estas crianças que se encontravam abaixo das curvas de crescimento numa fase inicial. Pode parecer um problema raro, mas na realidade 1/3 das crianças em todo o mundo com idades inferiores a cinco anos, encontram-se nesta categoria de subdesenvolvimento cognitivo. Quando os investigadores colocaram a questão se uma intervenção poderia ajudar a quebrar o ciclo da pobreza, descobriram que as crianças que tinham sido estimuladas aumentaram em 25% a riqueza gerada. Se recuarmos até fases ainda mais precoces na vida de uma criança, outro tipo de estimulação possível, é o contacto pele a pele com recém-nascidos. Este estudo teve lugar na Colômbia com bebés prematuros. Os recém-nascidos ou iam para uma incubadora, que é o procedimento habitual, ou para o programa “Mãe Canguru”, em que os prematuros eram mantidos em constante contacto com a pele da mãe ou do pai, até a criança demonstrar que queria independência. Os bebés que mantiveram o contacto com a pele, ficaram menlos tempo hospitalizados, sofreram menos mortes, tiveram um crescimento melhor e aprimoraram o desenvolvimento cognitivo. Amamentar é um bom exemplo deste contacto, em que a estimulação e nutrição caminham juntas. A evidência científica também sugere que se correspondermos às necessidades básicas de nutrição, podemos criar oportunidades de criança beneficiar deste tipo de estimulação. Assim, eu acho que esta é a segunda mensagem: fazer investimentos na nutrição e estimulação na primeira infância, pode levar a cérebros menos subdesenvolvidos e a quebrar os ciclos viciosos que perpetuam nas comunidades empobrecidas. Estas estratégias requerem coragem dos políticos, já que o retorno do investimento demora algum tempo até se notar. E nessa altura eles já não estão no poder. Mas há muitas coisas que não sabemos. Ainda não mapeámos todas as nuances do desenvolvimento cerebral, sabemos mais sobre os extremos, o0 efeito nas famílias vulneráveis, que são expostas a situações de grande stress, ou as crianças que são negligenciadas, em comparação com as crianças de baixo risco. Isto tende a acontecer na pesquisa, já que podemos ver resultados com mais contrastes em populações de alto risco. Mas, por outro lado, acho que nós temos um sinal poderoso a partir do qual podemos criar e construir, que não é complexo, é intuitivo para os pais: comer e brincar! Re-imaginar como disponibilizar a combinação certa de nutrição, estimulação, protecção e, fundamentalmente, amor humano, necessários para salvar cérebros, parece ser um grande desafio. O foco aqui foi a primeira janela de oportunidade para o desenvolvimento, mas é importante ter em mente que nunca é tarde de mais. Iniciar uma prática de brincar e de educar a criança desde cedo, bem como responder, envolver e nutrir as crianças, adolescentes e adultos na nossa vida, pode mudar os cérebros para melhor ao longo da vida. Há um provérbio chinês que diz: “O melhor momento de plantar uma árvore foi há 20 anos atrás. O segundo momento é agora!”. Salvar cérebros diz respeito ao investimento oportuno dos recursos, mas também se trata de ter oportunismo na utilização destes recursos, principalmente quando somos nós, pais, amigos, investigadores ou comunidades. Salvar cérebros é algo para pensarmos!
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De quanto sono precisamos realmente?
O objetivo do sono é debatido pelos cientistas, é necessário para um funcionamento eficiente e produtivo. Ocupamos 24 anos do nosso tempo de vida a dormir. Investigadores testaram quanto tempo é necessário despender por noite a dormir, ao avaliar grupos de 4,6 e 8 horas de sono, ao longo do tempo. Ao fim de 14 dias, o grupo com 8 horas de sono demonstrou ter poucos lapsos de atenção ou problemas cognitivos. No entanto, os grupos 6 ou 4 exibiram um declínio progressivo destas funções. De facto, após 2 semanas o grupo 6 demonstrou um tempo de reação semelhante ao de uma pessoa com uma concentração de álcool no sangue de 0,1%, o que é considerado legalmente alcoolizado. As pessoas sujeitas a 4 horas de sono sofreram alterações mais marcadas, adormecendo ocasionalmente durante os testes de cognição. Em ambos os grupos as funções cerebrais diminuíram dia após dia, quase linearmente, sem qualquer indício de estabilizar. Ciêntistas designaram este efeito cumulativo de “Défice de Sono”. E será possível uma recuperação? Depois de 1 ou 2 noites bem dormidas, estudos demonstraram que o organismo consegue recuperar totalmente. Porém, com uma privação de sono a longo prazo, numa escala de semanas a meses, a recuperação das funções cognitivas é muito mais lenta, sendo necessário um número maior de noites de sono com qualidade para normalizar. Na escala de meses a anos, desconhece-se se as consequências para as funções cerebrais podem ser totalmente recuperadas, ou se causam danos permanentes. Paradoxalmente, com a privação de sono crónica, a tua sonolência ou o quão cansado te sentes acaba por estabilizar, o que significa que ficas cada vez menos consciente do teu défice de sono ao longo do tempo. Então, quanto tempo devo dormir? A maioria dos estudos apontam para as 7-8 horas de sono como a média ideal para os humanos. Além dos problemas cognitivos, indivíduos que consistentemente dormem menos do que 7 horas por noite, têm um risco acrescido para doenças cardíacas, obesidade e diabetes, para não mencionar um aumento de 12% no risco de mortalidade. Por outro lado, a investigação tem sugerido que, embora dormir mais de 8 horas não afete a cognição, também implica um risco acrescido para doenças cardíacas, obesidade e diabetes e um aumento no risco de mortalidade, por qualquer causa de 30%! Portanto, dormir demais também pode ser mau. Mas existe certamente diversidade interindividual, na qual a nossa genética tem um papel fundamental. De facto, indivíduos genuinamente não afectados por 6 horas de sono exibiram uma mutação de um gene específico. Quando os cientistas manipularam os genes dos ratinhos para aumentar a expressão deste gene, aumentaram a capacidade dos ratinhos para ficar acordados mais 1,2 horas, quando comparados com os ratinhos normais. Acontece que estes animais com um sono de curta duração têm um sono biologicamente mais intenso que o ser humano normal. Por fim, embora seja importante ter em conta a existência de um valor de referência de 7-8 horas, é melhor deixar o corpo e a mente descobrir as suas próprias necessidades
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Os ABCs da diabetes
A acumulação de gordura na região abdominal desempenha um papel importante na diabetes. Mesmo pequenas alterações podem resultar em grandes diferenças. Assim, incentiva-se as pessoas a diminuírem a adiposidade abdominal. As mudanças positivas têm uma fórmula específica para cada pessoa mas, regra geral, tendem a incluir a capacidade de acreditar em nós próprios para promover mudanças, a capacidade de lidar com o stress, conseguir recomeçar de novo após os reveses inevitáveis e poder contar com uma rede social de apoio.
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Factos curiosos que te vão deixar de boca aberta
O caju cresce nas maçãs. Neste caso, a maçã é um fruto acessório simples, com o caju a crescer no topo. Os cogumelos estão mais próximos dos animais do que das plantas. O ancestral mais comum entre os seres humanos e os cogumelos é mais recente do que a de os cogumelos e as plantas. Árvores que, na verdade, crescem para fora do ar e não do solo. Embora recebam alguns minerais do solo, o dióxido de carbono do ar entra na árvore e, com a ajuda do sol, remove o oxigénio. Este carbono é deixado com água para criar o conteúdo da árvore. No Lago Superior existe água suficiente para cobrir todo o norte da América do Sul, com 30 cm de água. Há mais estrelas no universo visível do que todos os grãos de areia em todas as praias da Terra. No entanto, o número de sinapses no cérebro, na zona do córtex, são aproximadamente 125 biliões, a quantidade de estrelas que chegam para encher 1500 galáxias da Via Latea. Um átomo é aproximadamente 99,99% de espaço vazio, fazendo com que tudo no Universo seja praticamente nada. Incluindo o nosso corpo que, por sinal, está constantemente a substituir células, de tal forma que a cada 10 anos todas as células do corpo acabam por ser substituídas. Ou seja, cada átomo no nosso corpo é diferente agora, temos tanto de comum com o nosso ser anterior, como qualquer outro ser humano que já viveu, ou viverá. Durante o tempo todo há mais células de bactérias no teu organismo do que células do próprio corpo. Quando chegarmos aos 18 anos temos, em média, 3200 – 2500 fins de semana para aproveitar até ao final da vida, ou 57 verões. As libelinhas têm pernas, mas não conseguem andar, apenas aterrar. Numa população de peixes palhaço, se a fêmea morre ou é removida, o macho dominante torna-se uma fêmea. O Tiranossauro, em termos de tempo, está mais perto dos dias de hoje do que quando o Estegossauro habitava a Terra. Pela mesma razão, Cleópatra viveu mais perto de presenciar a aterragem do Homem na Lua do que a construção das pirâmides do Egito.